Ontem li uma entrevista do economista Marcos Lisboa, que trabalhou no governo Lula, para a agência de notícias da Agência Estado (Broadcast).
Ele falou da necessidade de ajuste fiscal (mesmo que as medidas não sejam muito boas) e ressaltou as dificuldades de se fazer isso em uma "sociedade infantilizada".
Ele tem razão, vamos esquecer que ele foi chefe no governo Lula que foi eleito para "infantilizar" a sociedade com muitas benesses (dar aumento de salário sem relação com a meritocracia, bolsa família, cotas raciais,...). Será que ele não sabia da relação PT com os sindicatos, quando aceitou o cargo na época?
Cabe também adicionar que não se trata de um problema brasileiro, não é uma jabuticaba, também se fala do vício em "free stuff" nos Estados Unidos e toda a Europa financia seus próprios inimigos (vários jihadistas são sustentados pelos governos).
Ele tem razão que a infantilização traz enormes dificuldades, na medida que se deprecia o valor do trabalho.
Vejamos parte da entrevista de Lisboa.
10/03/2015 13:09:30 - AE Topnews
4.
ENTREVISTA/MARCOS LISBOA: SITUAÇÃO ECONÔMICA É CULPA DO GOVERNO E DE
"SOCIEDADE INFANTILIZADA"
São Paulo, 10/03/2015 -
As medidas fiscais do governo federal são dolorosas, mas seguem na direção
correta, na avaliação do diretor vice-presidente do Insper, Marcos Lisboa.
"As medidas fiscais, mesmo as que não são as melhores para a retomada do
crescimento, devem ser feitas", diz Lisboa, em entrevista exclusiva ao Broadcast
para comentar a relação entre o ajuste fiscal e o descontentamento de parte da
população evidenciado no "vaiaço" de domingo.
Para o economista, a agenda de retomada do crescimento econômico é difícil "não só por culpa do governo", mas também pelo fato de o Brasil ter uma "sociedade infantilizada". Ou seja, diversos grupos se acham no direito de receber tratamento privilegiado. "Até pouco tempo, o governo decidiu ceder à demanda de grupos organizados. O resultado está aí." Abaixo os principais trechos da entrevista:
Broadcast - As medidas na área econômica estão adequadas? Marcos Lisboa - As medidas fiscais até agora têm o mérito de um reconhecimento tácito de erros e de uma mudança de rumo. As manifestações (como a que ocorreu no domingo) são compreensíveis porque foi eleita uma presidente com discurso contrário do que está sendo feito. Lá atrás, o governo decidiu adotar uma postura mais populista de negar a crise internacional e conceder estímulos para evitar a crise no Brasil. O resultado disso foi adiar e agravar a crise. É o equivalente ao que foi feito com a água e a energia.
Broadcast - O senhor se refere ao adiamento do diagnóstico de escassez de água e de um plano de prevenção para a crise que vivemos no estado de São Paulo, por exemplo?
Lisboa - Isso. É a mesma coisa. (No caso do ajuste fiscal,) ainda tem a frustração das pessoas que acreditaram no governo e em uma saída mágica para evitar as restrições que agora são vistas. Além disso, a campanha eleitoral como foi conduzida queimou as pontes com muitos grupos da sociedade e gerou graves desafios para a presidente em termos de criar consenso, alianças.
Broadcast - O fato de, na sua opinião, nem todas as medidas fiscais serem adequadas justifica o descontentamento de parte da população no domingo?
Lisboa - Acho que não. São duas coisas separadas. As medidas fiscais, mesmo as que não são as melhores para o longo prazo, devem ser feitas. Como fazê-lo é o que pode definir como vai se dar a retomada do crescimento econômico. E o Brasil tem uma agenda difícil para retomar o crescimento não só por culpa do governo. Temos também uma sociedade infantilizada. É a economia da meia entrada. Diversos grupos se acham no direito de ter tratamento privilegiado, de andar no acostamento. Isso se disseminou na sociedade brasileira de maneira impressionante.
Broadcast - Considerando a hipótese de termos outro governo, as medidas fiscais seriam as mesmas dado o resultado fiscal de 2014 e dessa cultura de "andar pelo acostamento"?
Lisboa - O ajuste fiscal teria de ser feito de qualquer maneira, e o atual está longe de ser suficiente. Há um debate sobre em que medida vamos continuar com essa concessão disseminada de privilégios pontuais. Até pouco tempo, o governo decidiu ceder à demanda de grupos organizados para baixar os juros, aumentar o câmbio, conceder crédito subsidiado, evitar concorrência exterior, estimular a regra de conteúdo nacional, proteger o pequeno negócio. O governo cedeu, e o resultado está aí. (Karla Spotorno - karla.spotorno@estadao.com)
Para o economista, a agenda de retomada do crescimento econômico é difícil "não só por culpa do governo", mas também pelo fato de o Brasil ter uma "sociedade infantilizada". Ou seja, diversos grupos se acham no direito de receber tratamento privilegiado. "Até pouco tempo, o governo decidiu ceder à demanda de grupos organizados. O resultado está aí." Abaixo os principais trechos da entrevista:
Broadcast - As medidas na área econômica estão adequadas? Marcos Lisboa - As medidas fiscais até agora têm o mérito de um reconhecimento tácito de erros e de uma mudança de rumo. As manifestações (como a que ocorreu no domingo) são compreensíveis porque foi eleita uma presidente com discurso contrário do que está sendo feito. Lá atrás, o governo decidiu adotar uma postura mais populista de negar a crise internacional e conceder estímulos para evitar a crise no Brasil. O resultado disso foi adiar e agravar a crise. É o equivalente ao que foi feito com a água e a energia.
Broadcast - O senhor se refere ao adiamento do diagnóstico de escassez de água e de um plano de prevenção para a crise que vivemos no estado de São Paulo, por exemplo?
Lisboa - Isso. É a mesma coisa. (No caso do ajuste fiscal,) ainda tem a frustração das pessoas que acreditaram no governo e em uma saída mágica para evitar as restrições que agora são vistas. Além disso, a campanha eleitoral como foi conduzida queimou as pontes com muitos grupos da sociedade e gerou graves desafios para a presidente em termos de criar consenso, alianças.
Broadcast - O fato de, na sua opinião, nem todas as medidas fiscais serem adequadas justifica o descontentamento de parte da população no domingo?
Lisboa - Acho que não. São duas coisas separadas. As medidas fiscais, mesmo as que não são as melhores para o longo prazo, devem ser feitas. Como fazê-lo é o que pode definir como vai se dar a retomada do crescimento econômico. E o Brasil tem uma agenda difícil para retomar o crescimento não só por culpa do governo. Temos também uma sociedade infantilizada. É a economia da meia entrada. Diversos grupos se acham no direito de ter tratamento privilegiado, de andar no acostamento. Isso se disseminou na sociedade brasileira de maneira impressionante.
Broadcast - Considerando a hipótese de termos outro governo, as medidas fiscais seriam as mesmas dado o resultado fiscal de 2014 e dessa cultura de "andar pelo acostamento"?
Lisboa - O ajuste fiscal teria de ser feito de qualquer maneira, e o atual está longe de ser suficiente. Há um debate sobre em que medida vamos continuar com essa concessão disseminada de privilégios pontuais. Até pouco tempo, o governo decidiu ceder à demanda de grupos organizados para baixar os juros, aumentar o câmbio, conceder crédito subsidiado, evitar concorrência exterior, estimular a regra de conteúdo nacional, proteger o pequeno negócio. O governo cedeu, e o resultado está aí. (Karla Spotorno - karla.spotorno@estadao.com)
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